O mérito em risco

Laudelino Sardá :: professor de Jornalismo

O episódio que ensejou a mídia tradicional de destacar a prisão do prefeito de Florianópolis Gean Loureiro, na terça-feira, 18 de junho, requer uma reflexão profunda sobre os riscos de o esforço de se combater a libertinagem nacional com dinheiro público ser tragado pela imaturidade. A corrupção é uma nódoa que precisa ser extirpada, sob pena de a Nação afastar-se, cada vez mais, da sua obrigação de se estruturar em um modelo de desenvolvimento social e econômico decente.

A Polícia Federal, Polícias Estaduais e Ministério Público, principalmente, são organizações valiosas neste processo de lipoaspiração do poder público. Contudo, é necessário que a prudência elimine a precipitação, para que o cidadão, independente do seu papel na sociedade, não se julgue aleatoriamente injustiçado por denúncias ou prisão, e que a sociedade nunca deixe de qualificar a luta das polícias e do MP como importantíssima à moralização pública e, sobretudo, sob o amparo da Constituição Nacional.

O que ocorreu, por exemplo, com o reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancelier de Olivo, de sentir-se humilhado ao ser preso, e de se suicidar dentro do Beiramar Shopping, suscitou as primeiras dúvidas da própria sociedade sobre os procedimentos policiais, mesmo continuando a defender o combate à corrupção. O que se deduz da prisão de Gean Loureiro não foge à mesma ótica e nem à mesma luta, diante da perplexidade do vazio. Os sinais de depravação no serviço público têm que ser investigados e os verdadeiros culpados punidos, mas a sociedade precisa sentir o peso das leis nas bases das atitudes.

É necessário refletir, principalmente, sobre o efeito nocivo de denúncias em processo de investigação e de estratégias que têm favorecido a imprensa de saber, muitas vezes, de ações policiais antes mesmo de o culpado ser preso. A imagem vilipendiada tem preço. Quem é verdadeiramente corrupto precisa ser conhecido como um ser abominável pela Nação. E quem é punido antes do tempo não tem mais como se salvar do retrato exibido nas mídias tradicionais e sociais, por mais que venha a ser inocentado.

Esse cenário é reflexo de uma Nação desajustada, em que os três poderes do Estado agonizam em suas próprias incertezas, se agigantam nas ambições descontroladas e se afundam em seus próprios regalos. A Nação precisa alcançar novos degraus da moralidade e da ética e, nesse esforço, as polícias e o MP devem servir de exemplos, até porque suas ações devem contribuir decididamente à retomada de consciência dos inquilinos dos três poderes.

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